É comum que, quando pensamos em nossos pais (se já na terceira idade), em nossos avós ou em qualquer idoso/idosa, pensamos em pessoas não-sexualizadas. É como se o idoso/a idosa não tivesse – e até não devesse ter – espaço para a sexualidade em sua vida. Mas você já se perguntou por que isso acontece?
A sexualidade na velhice é um assunto extremamente contaminado por preconceitos que reproduzimos devido a alguns pensamentos culturais/sociais que acabamos interiorizando.
Acabamos por acreditar e disseminar ideias que povoam nosso imaginário, como:
- “O idoso / A idosa não tem vida sexual e não pode/deve ser visto como um indivíduo sexualizado. Isso seria até imoral. Inclusive, o idoso / a idosa deve ser vigiado/a com relação a suas atitudes nesse sentido, para não cometer “gafes” por aí.”
- “O idoso / A idosa certamente tem impotência sexual, logo, “naturalmente” não pode ter relações ou exercer sua sexualidade.”
- “O idoso / A idosa não é mais uma pessoa atraente.”
Será que é assim mesmo?!
É nítido que, em nossa sociedade atual, todo e qualquer valor é orientado para a juventude. Somente o jovem é belo, viril e apto para exercer sua sexualidade em todos os sentidos. A velhice é atrelada à impotência e a valores morais rígidos – qualquer manifestação de sexualidade vinda de uma pessoa “de mais idade” pode ser encarada até como um sinal de demência senil. Afinal, aos olhos da maioria, a sexualidade é imoral e os idosos, tão doces, puros e recatados, jamais poderiam exercê-la.
Como o idoso/a idosa poderia exercer, expressar e vivenciar sua sexualidade em um cenário tão repressor como este?
Já percebeu que, muitas vezes, tratamos idosos como crianças? E em ambas as faixas etárias, rejeitamos completamente a ideia de uma possível presença de sexualidade!
“Ah, mas se o idoso é levado a se aposentar de seu trabalho e demais atividades, deve também aposentar-se de sua sexualidade!” Quem definiu isso?
A mulher idosa é ainda mais reprimida, pois se vê em um corpo que não cabe mais dentro dos padrões de sensualidade, sentindo-se desajustada, desvalorizada e envergonhada.
Tudo isso leva os idosos/as idosas a realmente reprimirem suas vontades, necessidades e desejos que, sim, continuam presentes em suas vidas. É difícil até abordar o tema com esse público, que se sente constrangido em falar sobre o assunto.
Na realidade:
- A sexualidade é um dos últimos processos biológicos relacionados ao prazer que se deteriora (Kaplan, 1990).
- A impotência sexual é uma doença que não está necessariamente associada à velhice.
- O conceito de atração sexual é extremamente particular e subjetivo.
Porém, com toda essa pressão social, muitos idosos acabam não compreendendo as mudanças que ocorrem em seu corpo/organismo e acabam deixando de exercer a sua sexualidade. Segundo pesquisas*, com o passar dos anos, a sexualidade se torna ainda mais reativa à afetividade. Ou seja, se o casal possui uma relação satisfatória, sua frequência de relações permanecerá estável. Mas eles/elas acreditam serem realmente impotentes e estarem inaptos/inaptas para essa atividade, pura e simplesmente devido a uma pressão social/cultural.
Você acredita que, apenas por se tornar um idoso/uma idosa, sua sexualidade deveria ser reprimida? Como você gostaria de ser tratado/tratada com relação a isso?
Que poder temos para julgar se o outro tem ou não necessidades/vontades/desejos?
Fica aqui a reflexão para nos policiarmos e tentarmos nos desvencilhar destes pré-conceitos.
*Referência: A sexualidade no processo do envelhecimento: novas perspectivas – comparação transcultural